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Contrastes e confrontos entre o romance de Cyro Martins e o filme de Guilherme Castro

Aula que faremos no dia 06 de setembro, com a professora Maria Helena Martins, na Faculdade de Letras da PUCRS.

Notas sobre a adaptação literária:*

Desde o lançamento de Boa Ventura (CM, 14 min) em julho de 2015, as apresentações - até agora em salas e eventos em Porto Alegre, interior do RGS, Argentina e São Paulo - têm possibilitado ótimos debates. (...)

Em Porteira Fechada (romance de Cyro Martins), personagens aprofundados em histórias, situações dramáticas, premissas e contextos muito bem fundamentados favorecem o cinema que não quer mostrar mas revelar emoções e motivos bem guardados por debaixo das superfícies refletidas pela luz.

Na transposição de todo texto escrito para imagens e sons projetados surge uma obra nova e, embora menos que o livro, sempre aberta. As adaptações possíveis são infinitas como as leituras dos livros adaptados. Porém, enquanto no texto lido o trabalho criativo de imagem é quase todo do leitor, no cinema, oferecemos a cena muito mais acabada (e menos rica). Um paradoxo conhecido é que a literatura é mais visual que o cinema, porque cada leitor cria em sua mente um universo visual completo. Assim, o filme adaptado quase sempre é uma diminuição da literatura (especialmente de um romance para um curta-metragem). Por isso, as filmagens dos livros favoritos geralmente são rejeitadas pelos leitores. Filmar a partir de um livro é sempre uma ousadia e um risco grande; filmar um clássico, ainda mais. A decisão de adaptar Porteira Fechada, obra e autor que conheço há bastante tempo, foi consciente para o estilo de cinema pretendido.

Adaptado de Porteira Fechada (1944), o filme narra o trecho da história em que a família Guedes chega à casa dos primos na cidade de Boa Ventura (no título do filme está uma ironia do texto de Cyro Martins, porque a desventura dos personagens é grande). (...)

Assim como as pessoas reais, os bons personagens são dúbios, complexos, contidos e oblíquos no modo de falarem, agirem, vestirem-se e moverem-se. A câmera identificada com olhares de personagens pulsantes e plausíveis pode construir uma cena não realista, cujas imagens não sejam nem meras ilustrações do texto, tampouco enquadramentos burocráticos para o trabalho de atores. A produção, quando compreende e constrói as imagens e sons a partir de personagens com vida interior, oferece um olhar expressionista, errático e fragmentado, portanto, muito mais atraente e até mesmo ‘real’, enquanto cinema, ao público.

São intenções de cinema, ideias em abstrato, porque sempre depende do efeito causado no espectador.(...) Alguns personagens foram suprimidos, outros cresceram, não são as mesmas cenas do livro, tampouco as mesmas falas, e a ordem dos acontecimentos também foi alterada. São procedimentos comuns e necessários a uma adaptação. Maria Helena e Cláudio Martins, os filhos de Cyro, desde o primeiro instante demonstraram não apenas saber e esperar essas diferenças formais, mas também creditaram total confiança e liberdade ao meu trabalho (a bem da verdade, a influência da trilogia do gaúcho a pé e o estilo de cinema proposto já apareciam de modo pronunciado em Terra Prometida (CM de 2006), adaptação do conto homônimo de Taylor Diniz).

Essa jornada de exibições e debates já autoriza dizer que Boa Ventura, de forma atualizada (recorte, recriação contemporânea), consegue narrar em filme a história da família Guedes, e retratar o universo de Cyro Martins em uma obra nova e visão própria. Assim, além de tratar com uma das mais importantes obras da nossa literatura, sobretudo, a satisfação está em colocar ideias, propostas e conteúdo de arte no trabalho de contar histórias no cinema.

*(Artigo publicado parcialmente em http://www.celpcyro.org.br/)

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